Ascensão do descendente de trentinos Gentile José Tezzele (tio Gentil Tessele):
Chega ao grupo dos “bichon” franciscanos, o descendente primogênito do trentino Francesco, o Senhor Gentile Tezzele (agora Tessele) nascido em 1900, em Silveira Martins. Filho dos trentinos Secondo Francesco Tezzele (Nonno Franz) e de Magdalena Rech que, tendo quatro irmãs já residindo em Dona Francisca, a Oliva casada com Antonio Bau, a Palma casada com Luigi Bastiani, a Marta Giuditta casada com Guerino Marzari e a Orsola Benvenuta casada com Attilio Carlos Rech, decidiu também migrar para lá juntamente com seus pais. Casou-se em 25/6/1921 em Dona Francisca com Enriqueta Segabinazzi, filha de outro “bichon”, também trentino Phelippe Segabinazzi, então falecido.
Este casal veio a desempenhar importante papel na comunidade franciscana de então. Alem de terem ligações familiares com a maior parte das famílias lideres, detinham perfil de liderança e iniciativa natas. O tio Gentil logo assumiu a liderança principal dos “bichon” e a tia Enriqueta assumia a liderança na assistência às famílias.
Em 21/1/1931 falece Giacobbe Giacomo Trojan. Importante registro consta das anotações feitas pelo Padre Agostinho Rorato nos livros da Igreja, guardados no Bispado de Santa Maria: "Aos 21/01/1931 no cemitério de Dona Francisca foi sepultado Jacob Trojan, natural da Itália, falecido com 64 anos, casado, não cheguei em tempo para ouvir a confissão, chamei-o mas não deu signal algum, por isto dei-lhe a absolvição subconditione, absolvendo-o também subconditione da escomunhão, pois era massão em vida e publicamente nunca retratou ou abjurou, porém rezava e em quase todas as festas assistia a missa. Administrei os santos óleos e para constar lavrei este assentamento que assigno."
Era popularmente conhecido como Nini e exercia a função de Juiz Distrital. Em 26/12/1932, em Dona Francisca, morre Attilio Carlos Rech, sem ver a chegada das missionárias palotinas como almejava, embora já tivesse doado a casa que iria recebê-las. Umberto Cassol falece em Dona Francisca aos 29/07/1934, que, ao contrario, viu realizado seu sonho e desejo de contar com as religiosas em Dona Francisca.
Abriu-se então, maior espaço para a atuação do tio Gentil. Agora, já nos idos de 1935, o grupo líder era composto pelos seguintes franciscanos: os descendentes de trentinos Gentile José Tessele, Benjamin Segabinazzi e Attilio Fiorino Rech (filho de Attilio Carlos), Rosalino Olinto Martini, e os descendentes de belunenses Olyntho Soccal e João Antonio Trojan.
Cabe aqui também, importante destaque ao Senhor Benjamin Segabinazzi. Casou-se em 01/09/1900 em Dona Francisca com Amabile Soccal, irmã de Olyntho, ambos filhos dos belunenses Antonio Soccal e Enriqueta Canei. Benjamin teve 11 filhos, sendo 6 deles do sexo masculino. Ou seja, prevaleciam os filhos homem o que Lhe permitiu amplo desenvolvimento face a grande disponibilidade de braços para a lavoura. A familia teve crescente progresso e embora enorme, conseguiu prosperar muito, permitindo que se ampliasse para novas fronteiras e novas terras. O Sr. Benjamin Segabinazzi logo cedo transferiu seus bens para seus filhos, recolhendo-se para uma vida mais regrada, vindo a falecer em 11.4.1950, deixando uma enorme familia e muitos serviços prestados para a comunidade.
Seguidamente o grupo dos “ bichon” reunia-se na casa do tio Gentil. Eram reuniões secretas e comumente havia a participação de alguém de fora. Seja de Cachoeira, Agudo ou Santa Maria. Seguramente tratavam de seus negócios e das coisas da comunidade, embora houvesse ai a suspeita de reuniões maçônicas. Independentemente de ser uma loja maçônica ou não, articulavam ações de melhorias comunitárias, casamentos, novas regras, atualizações políticas e providencias junto à sede do município e assuntos de toda ordem.
Dali saiam determinações importantes e de quase todas as grandes iniciativas tomadas pela sociedade franciscana. Ou seja, desde sempre os “bichon” eram o ponto de iniciativas da coletividade. Tanto das boas quanto das ruins. Reconhecidamente, todas as iniciativas foram idealizadas por eles.
Em certa época, estabeleceram que seria proibida a criação de porcos na vila. Nunca se soube o real motivo desta proibição. Entretanto, na medida em que muitos venderam ou transferiram suas criações, outros permaneciam com seus porcos na vila. Fácil imaginar quem eram os beneficiados. Os “ bichon”. Vitorio Casasola transferiu perto de 100 porcos para terras arrendadas as pressas na Linha do Moinho, implicando em deslocamentos diários de um de seus filhos para o trato-los, enquanto outros permaneciam com suas criações na vila.
Na historia existem muitos exemplos de governantes que se utilizaram do excesso de autoridade, do autoritarismo, progredindo para o totalitarismo e por vezes ao absolutismo ou à tiranias. Em qualquer sociedade sempre existem os que comandam e os que são comandados, e entre eles há que se estabelecer uma relação de convivência. As partes irão reagir conforme a ação da outra parte. E assim por diante. Ou seja, quanto mais opressão, mais reação. Fica fácil compreender o terrorismo. O terrorismo é a subversiva reação de uma sociedade oprimida, contra seus tiranos opressores. É o extremo.
Claro que não se pretende comparar o tio Gentil, nem os “bichon” com nenhum totalitarista, mas que abusos foram cometidos não há como negar. E, por conta disso, reações condenatórias se fortaleceram. Surge ai a grande separação e polarização política da comunidade. Os pró e os contra os “bichon”. Adicionalmente, os “bichon”, então identificados pela população e pela Igreja como maçons, o que agrega ingrediente adicional na situação conflituosa.
A partir daí, tudo sempre ficou muito bem polarizado, seja nas relações internas da colônia, seja nas suas definições políticas. Dona Francisca nunca teve terrorismo, tampouco totalitarismo, mas nunca como então, teve os ânimos tão acirrados e revoltosos. Cresceu a opressão e em consequência, aumentou a reação para nunca mais se equalizarem. Neste momento, as partes assumem comportamentos cegos. Venha o que vier dos lideres será defendido cegamente pelos seus seguidores. Em contrapartida, vindo deles, sempre será condenado e reprovado pelos adversários. Acreditamos que ao citarmos aqui esta nossa interpretação histórica, haverá negação, questionamento, critica e rejeição por todas as partes. Acreditamos que prevalecerá, ainda hoje, o posicionamento cego, seja contra, seja à favor. Que seja ...
Acreditamos ainda, e principalmente, que a sociedade franciscana iniciou uma fase de estagnação por conta deste posicionamento político polarizado pelos seus lideres membros (de ambos os lados).
A tia Enriqueta, sempre muito bem informada pois pertencia a todas as famílias dominantes e conhecia os assuntos e informações tratados nas reuniões dos “bichon”, agia pessoalmente no âmago das famílias. Sempre levava apoio e suporte para os recém nascidos e suas mães. Sabia tratar e recomendar medidas para a sobrevivência das crianças prematuras ou para mães doentes. Incansável no conforto das famílias nas perdas de parentes. Sua presença significava relevância, pois era a esposa de um “Bichon”, e era reconhecida como pessoa de bondade e detentora de dedicação para com os necessitados. Da mesma forma que levava apoio e conforto procurava saber detalhes da familia para auxiliá-las, e ao mesmo tempo conhecer seus assuntos íntimos. Sempre teve atuação casamenteira e de solidariedade. Juntamente com sua nora, a tia Amabile Cassol, esposa de seu filho Lino Tessele, deslocavam-se aonde fosse necessário para levar recursos, orações, conforto espiritual e consolo aos necessitados.
Exerciam trabalhos de parteira quando necessário ou buscavam a própria parteira quando preciso. Acompanhavam a recuperação de doentes e de órfãos. Encaminhavam ou orientavam nas decisões para a familia sempre que precisavam reagir a perda de algum membro. Ou seja, faziam um trabalho social muito importante numa terra e numa época em que pouco se tinha. Elas devem ser vistas como as primeiras assistentes sociais da comunidade franciscana.
Consta inclusive que tia Enriqueta ficou por demais preocupada e assustada quando soube das pretensões de um franciscano, parente seu, em se casar com outra franciscana, filha do homem que ela suspeitava ser o próprio pai do rapaz. Ou seja, ela temia o casamento entre dois irmãos por parte de pai. Ela sabia de tudo, tudo induzia e sempre procurava encaminhar casamentos, condenar outros e favorecer alguns. Na época em que os casamentos eram preferencialmente entre os “ bichon”, incumbia-se de articular todas estas ligações. Aquele casamento acabou acontecendo e nunca se soube se os noivos eram efetivamente irmãos por parte de pai. Tiveram filhos normais e, ao que sabe, o possível fato não motivou problemas ao casal e aos seus descendentes.
O casal deixou muitos filhos, sendo que alguns participaram decisivamente na política do município e na sua emancipação.