Criação da Colonia
Manoel José Gonçalves Mostardeiro se casa em Porto Alegre com Francisca Pereira. Trabalhava no comercio da família e precisava buscar independência e sua própria família e negócios.
Aceita a negociação da divida pelas terras, em 1882. Manoel fixou residência na fazenda, passando para a historia de Dona Francisca. Construiu sua residência na mesma chapada do Cerro Santo Antônio onde ficava a antiga sede, entretanto, mais para oeste desta. Mudou o nome da fazenda para São José, pois era o seu santo padroeiro. Posteriormente na década de 1950, o lote que continha a nova sede pertencia a Vittorio Casasola que demoliu as ruinas da casa pois não apresentava mais condições de ser habitada nem restaurada. Restam até hoje, partes das ruinas dos alicerces e um enorme pé de butiá. Este butiazeiro todo ano produzia muitos cachos e era ponto de encontro da gurizada, seja para comer seus cocos, seja para colhe-los para engarrafar em cachaça. Posteriormente este lote pertenceu a Gottardo Sonego.
O governo provincial continuava com a demarcação de novas terras, mas sempre nas encostas e montanhas da Serra Geral, ao leste e norte da sede da colônia, Silveira Martins, onde eram devolutas e propriedade do governo. As terras de várzeas planas do Rio Soturno e da margem direita do Jacuí eram propriedades particulares de latifundiários brasileiros .
Também em 1882, observando o grande fluxo de alemães que ali passavam para chegar a Santa Maria, e de italianos que já vinham para Geringonça, decidiu formar uma colônia particular, dividindo sua fazenda em lotes coloniais. Ressalte-se que o acesso até Geringonça (Novo Treviso) era feito através da Linha Formoso (na Colônia Santo Ângelo), depois de ultrapassar a Fazenda São José. O acesso natural seria pelo Núcleo Soturno, hoje Faxinal do Soturno, entretanto, nem sempre as estradas permitiam.
Surgiu a primeira iniciativa particular de colonização na quarta colônia. A visão empresarial e o tino comercial do proprietário da Fazenda São José, impulsionam a criação de uma nova colonização em suas terras. Manoel José contratou o agrônomo Ernesto Merhing para executar o empreendimento de lotear a fazenda, o qual foi concluído em 15.4.1883. Por ocasião das vendas, surgiram duvidas quanto a demarcação que levou a contratação do engenheiro Carlos Pretórios que confirmou a mesma, apenas reprojetou os lotes urbanos da povoação mais para noroeste. Este traçado definitivo e sua numeração de lotes foram fornecidos pelo Sr. Domingos Mostardeiro Filho que guarda os mapas da colônia.
A propriedade de quase três mil hectares ficou dividida em 69 lotes coloniais, 31 chácaras e 164 lotes urbanos. Os lotes coloniais variavam de tamanho entre 30 e 50 hectares e sua numeração iniciava na divisa da fazenda com a Colônia Santo Ângelo, sempre na margem direita do Rio Jacuí, no local conhecido hoje pela denominação de “Pinheiros”, na época já habitado por alguns colonos alemães. Neste ponto ficava o lote N. 1, a seguir para oeste, o N. 2, e assim, sucessivamente até a margem esquerda do Rio Soturno.
As chácaras estavam localizadas na então Rua das Chácaras, que passava nos fundos da área reservada à construção da Igreja, hoje denominada Rua Sete de Setembro. As chácaras ocupavam as áreas mais acidentadas da encosta da Serra Geral, em direção norte, para o topo do Cerro Santo Antônio.
Na área urbana foram reservados terrenos para a Igreja, praça, recreação e esportes. Esta área urbana situava-se a apenas 800 metros do lote que continha a casa de Manoel José, até então, sede da fazenda. A comparação do traçado urbano original com o traçado atual confere total precisão, notando-se apenas a abertura de novas ruas como então planejadas.
Os lotes coloniais compreendiam as terras de várzea da atual Linha Grande, que apresentam grande fertilidade e rentabilidade na produção de arroz, da mesma forma que as várzeas da margem esquerda na vizinha Colônia Santo Ângelo, cuja produtividade já era elevada.
As chácaras compreendiam as terras acidentadas e cobertas de alta vegetação das encostas do Cerro Santo Antônio, cuja utilização exigiu enorme esforço até poder ser agriculturável. Embora férteis, somente permitiam o cultivo da videira, milho, mandioca, trigo, frutíferas, fumo e hortaliças. Por serem cultivos de menor rentabilidade, seus proprietários não tiveram o mesmo progresso econômico dos colonos das várzea.
Os lotes urbanos eram estritamente residenciais e comerciais, de pequenas dimensões, que viriam a formar a sede administrativa da colônia, o “borgo” (vila).
Como em todo “paese” italiano (localidade, município, condado, principado, etc.) existem os “cittadini” (“borghese”), habitantes do “burgo”, e os “contadini” (campesinos), habitantes das terras periféricas e cultiváveis. Na Vila vivem os administradores do “paese”, os artesãos, os prestadores de serviços de ferraria, selaria, sapataria, alfaiataria, comercio, etc., enquanto nas periferias vivem os colonos e agricultores, sempre uns dependendo dos outros e vice-versa.
Pois bem, a Colônia Particular de Dona Francisca, criada e implantada por Manoel José Gonçalves Mostardeiro, seguia exatamente esta concepção europeia. Sendo ele de origem portuguesa, nascido no Brasil, em Mostardas, impressiona como teve o entendimento e lucidez para assim configurar a colônia, que embora fosse o modelo utilizado pelo governo, nada o obrigava segui-lo. Poderia Manoel José ter criado apenas lotes coloniais e chácaras, ignorando as necessidades sociais e culturais dos assentados, mas, ao contrario, pensou em tudo.
Esta decisão deve ter atraído e seduzido seus compradores italianos e alemães, pela organização básica que já conheciam na Europa e nas demais colônias, devendo ter sido fator determinante para o sucesso da colônia.
Embora os trabalhos demarcatórios tenham sido concluídos em 15.04.1883, e o primeiro lote colonial vendido um mês depois, estas datas não foram consideradas pela família Mostardeiro, talvez porque a demarcação nao estivesse ainda confirmada pelo engenheiro Carlos Pretórios. Sobre a fundação da Colônia Particular de Dona Francisca, consta no Arquivo Histórico de Nova Palma, textualmente: “desde 15.08.1883 estava reservado o lote colonial N. 7 para José Gomes Leal”, antigo proprietário das terras. Esta informação foi passada por Domingos Gonçalves Mostardeiro Filho em 17.04.1971 para o Arquivo Histórico.
É a data da fundação da Colônia, 15.08.1883.
Este mesmo ano de 1883 é citado pelos irmãos Portella em seu livro Cachoeira Histórica e Informativa, pagina 257.
A nível estadual a colônia foi criada durante a gestão do Dr. José Júlio de Albuquerque Barros, depois Barão do Sobral, nomeado Governador da Província do Rio Grande de São Pedro, e empossado em 16.07.1883. Administrou a província ate’ 20.09.1985.
Em 18.04.1891, o Ato Estadual N. 311 criava mais três Distritos de Paz: o Quinto, Sexto e o Sétimo no Município de Cachoeira do Sul; e o Ato N. 511 de 30.06.1891, estabelecia as divisas entre estes distritos. O Sétimo Distrito foi instalado na Colônia de Dona Francisca. O primeiro Livro de Notas deste Cartório foi recolhido ao Arquivo Publico de Porto Alegre e foi analisado em relação ao registro de suas escrituras e procurações. Já os livros de óbitos, casamentos e nascimentos foram analisados no Cartório de Faxinal do Soturno. De cada um deste livros foram retiradas informações e copias de documentos para suportar as anotações aqui divulgadas.
Segundo o Ato N. 511 que estabelece as divisas entre os novos distritos de Paz, conclui-se que o Sétimo Cartório tinha Dona Francisca como sede. Segundo depoimento do faxinalense Eusébio Roque Busanello, a sede teria sido instalada inicialmente em Ribeirão, depois transferida para Dona Francisca.
Também as seguintes localidades: Faxinal do Soturno, Sitio, Santos Anjos, São Joao do Polesine, Ribeirão, Vale Vêneto, Gerigonça (Novo Treviso), Formoso, Trombudo e Linha Ávila, sendo que estas ultimas três, pertencentes a Colônia Santo Ângelo na margem direita do Jacuí. As demais, exceto Dona Francisca que era um colônia particular, todas pertenciam a ex-colônia de Silveira Martins, estando todas elas situadas no então Município de Cachoeira do Sul. Foi por este Ato N. 511 que Dona Francisca ampliou sua área de jurisdição. As áreas destas povoações passaram a contribuir para o Quinto Distrito do Município de Cachoeira do Sul, que tinha sua sede em Dona Francisca. Em 1893 no Primeiro Livro de Notas do Sétimo Distrito de Paz, registravam Dona Francisca como Quinto distrito de Cachoeira, contudo, não sendo possível localizar a Lei, Ato ou Decreto que alterava a ordem de Sétimo para Quinto distrito.
Pelo Decreto N. 846 de 22.12.1905, o Município de Cachoeira do Sul perde a área da povoação de Gerigonça (Novo Treviso), para o Município de Júlio de Castilhos e, consequentemente, Dona Francisca diminuiu sua área. Não esqueçamos que Geringonça (Novo Treviso), era reduto de trevisanos e vicentinos.
Em 31.03.1938, pelo Decreto N. 7.199, a povoação de Dona Francisca foi elevada a categoria de Vila. A partir desta data, Dona Francisca passou a contribuir com os cofres públicos, pois até então seus moradores não pagavam impostos. Este decreto foi localizado num microfilme da Biblioteca da Assembleia Legislativa de Porto Alegre, de onde foram retiradas as informações necessárias, ficando entretanto, impossível a reprodução devido a problemas mecânicos no aparelho.
Dona Francisca, em 12.02.1959, pela Lei Estadual N. 3.711, deixou de pertencer ao Município de Cachoeira do Sul, passando a constituir um novo município, com Sede em Faxinal do Soturno. Este novo município abarcava as áreas do Quinto Distrito de Cachoeira do Sul, ou seja, as localidades de: Faxinal do Soturno como Sede, Dona Francisca, Trombudo, Formoso, Linha Ávila, São Joao do Polesine, Ribeirão, Vale Vêneto, Sítio, Santos Anjos Sanga Funda e parte de Val Veronese.
A partir de 17.07.1965, pela Lei Estadual N. 4.993, Dona Francisca consegue sua autonomia administrativa, desmembrando-se de Faxinal do Soturno. Abrangia uma área de 82 Km2, abarcando as localidades de: Formoso, Trombudo, Sanga Funda, Linha Ávila e Dona Francisca. Pode-se observar que, de um lado, a localidade de Dona Francisca que tinha uma população prioritariamente italiana, viu-se de repente, administrando um município cujos distritos eram povoados prioritariamente por descendentes de alemães. Estes distritos, além do mais, eram mais antigos pois fizeram parte da Colônia Santo Ângelo (Agudo), desde 1855. Então, como reagiu esta comunidade de origem alemã? Nada se sabe de explicito. Mas, no intimo de seus habitantes, o que deve ter se passado? Abandonados pela Colônia Santo Ângelo? Possivelmente. Subjugados a colonos italianos? Certamente. Afinal, o “borgo” sempre determinou regras para o todo. Os “contadini” sempre se subjugavam aos “cittadini”, “borghesi” ou burgueses pela sua influencia politica e seu nível elevado de domínio das leis, novidades, informações e noticias atualizadas. Inclusive na Alemanha. Era a condição europeia.
Pela questão desta heterogeneidade , e pela heterogeneidade de seus próprios italianos, tema que trataremos mais adiante, Dona Francisca tornou-se uma população complexa. Embora tudo isso, sedimentou uma conduta cheia de méritos, virtudes, sucessos, qualidades, e como qualquer outra, alguns deméritos.
No ano de 1983, em 15 de agosto, Dona Francisca comemorou seu centenário considerando ter sido efetivamente fundada em 15.08.1883, quando da formalização da aquisição do primeiro lote colonial. Todo ano comemora seu aniversario de emancipação administrativa no dia 17 de julho.
Origem do nome da Colônia
O nome da Colônia foi uma homenagem à esposa do colonizador Manoel José Gonçalves Mostardeiro. Quando o engenheiro Ernesto Merhing iniciou a demarcação da fazenda, solicitou a presença do casal proprietário para prestigiarem o acontecimento. A senhora Mostardeiro fixou um dos 7 marcos localizado no centro do portão de entrada do atual cemitério. A partir deste marco, seguia em direção da encosta da Serra Geral, para oeste, sempre à direita do cerro Santo Antônio, a linha denominada de Linha Dona Francisca, já em homenagem à Sra. Francisca Pereira Gonçalves Mostardeiro. Note-se que esta foi a primeira linha traçada na colônia, sendo que no inicio do assentamento dos compradores dos lotes, era a única linha (hoje rua) existente.
Com a chegada dos colonos e com o continuado transito de alemães e demais populares, sempre que precisavam fazer referencia à colônia, ao invés de mencionar a Colônia São José, citavam a Linha Dona Francisca que popularizou-se com o nome de Dona Francisca, mesmo apos a abertura de outras linhas e ruas.
À família Mostardeiro só restou uma solução: acatar a vontade do povo.
Existe outra versão sobre o nome da colônia relatada pelo faxinalense Eusébio Roque Busanello relacionada com Francisca Carolina, filha de Don Pedro I que teria visitado a região. Contudo, nada foi apurado sobre isso. Acredita-se que Francisca Carolina tenha sido a fada madrinha de outra colônia Dona Francisca existente em Santa Catarina, que corresponde hoje ao Município de Joinville, onde efetivamente, a filha do Imperador visitou e recebeu seu nome na colônia.
O nome da colônia deve-se a vontade da população em homenagear o colonizador e sua esposa. Esta é a origem que deve ser considerada, pois foi localizada junto ao Arquivo Histórico de Nova Palma, confirmada por relatos de Domingos Gonçalves Mostardeiro Filho, neto do colonizador. Em 1891, nos livros do cartório do Sétimo Distrito de Paz ja estava registrado: Colônia de Dona Francisca, significando que em apenas 8 anos de existência, este nome já estava popularizado e consagrado.
Importa atentar para o fato relevante da colônia ter seu nome original - Colônia São José – alterado espontaneamente para Colônia Dona Francisca, mesmo considerando o fato de possuir uma população, prioritariamente italiana e católica. Ou seja, se permitiu abandonar este tão conhecido, admirado e louvado nome bíblico e religioso, para homenagear uma mulher, não italiana, nem alemã e sem nenhuma referencia histórica. Ela era apenas uma espontânea e verdadeira mulher. Esta situação permite concluir que o casal, ou principalmente a esposa do colonizador, representava muito para os colonos, fruto de protetora acolhida, proteção e amparo recebidos. Os imigrantes chegados em um novo País, normalmente encontravam proteção apenas na união das famílias e na Igreja. Em Dona Francisca o colonizador era bastante religioso e devoto de São José, possivelmente, por isso também, os colonos tenham se sentido amparados e bem acolhidos, tanto no aspecto econômico e social, e como também, e principalmente, no aspecto espiritual. Devem ter encontrado na família do colonizador a confiança e a proteção mínimas necessárias. Ou seja, nesta colônia a recepção, a aceitação e a integração dos colonos foi extremamente positiva e serena, ao contrario de tantas outras como o ocorrido com os russo-alemães, tanto na Rússia como depois na quarta colônia, ou como diversos casos nas fazendas paulistas onde os colonos chegavam para substituir o escravo, e em muitos casos, recebendo o mesmo tratamento.
Ocupação dos Lotes Coloniais:
A noticia da conclusão dos trabalhos de demarcação da nova colônia em 1884, espalhou-se na sede da vizinha da Colônia de Silveira Martins – Berço da Quarta Colônia da Imigração Italiana no RS – suas vizinhanças, e também na já consolidada e vizinha Colônia de Santo Ângelo (Agudo), do outro lado do Jacuí. A colônia Santo Ângelo já possuía então, quase 30 anos e já desenvolvia enorme produção agrícola, associado ao fato de já estar na sua primeira geração, precisando alcançar novas terras. Além do mais, muitos dos italianos assentados em Silveira Martins, já a quase 10 anos ocupavam terras montanhosas ou áreas urbanas, necessitando, da mesma forma que os alemães, alcançarem novas oportunidades e espaços.
Aliado a estas necessidades, a fertilidade das terras e a planura das várzeas dos rios, interessou aos colonos. Uniu-se o útil ao agradável. O fato da colônia ser de iniciativa particular, sem patrocínio governamental, não desinteressou nem assustou os colonos. Para eles fazerem negócios desta dimensão, com desconhecidos, sem nenhum respaldo ou resguardo governamental, tampouco da Igreja, era sempre temerário. Qualquer imigrante sempre desconfia de tudo quando recém chegado.
A venda dos lotes era feito era feito à vista ou à prazo. Quando à prazo, tinham 3 anos de carência para iniciar sua quitação. Passado este período, os juros eram cobrados e capitalizados de 6 em 6 meses. Estes juros variavam de 6 a 12% sobre o valor da divida no semestre. Estes regimes de financiamento foram identificados no livro da contabilidade da família Mostardeiro, em poder de Domingos G. Mostardeiro Filho.
Estas condições estimularam os colonos de Silveira Martins a abandonarem seus antigos lotes localizados nas serras e encostas acidentadas. Da mesma forma em relação aos alemaes da Colônia Santo Ângelo, seja pelo mesmo motivo seja pela necessidade de expandir seus negócios e investimentos, buscando novas áreas de várzeas planas de Dona Francisca. Sonho de todo imigrante, pois, na Itália, “la pianura padana”, com várzeas idênticas as do Jacuí e do Soturno, eram inacessíveis pois eram latifúndios pertencentes aos nobres condes e Senhores. As poucas várzeas do Rio Pó cultivadas, eram cedidas sob regime de meeiros com os colonos, agora nossos imigrantes. Então, a possibilidade da plena propriedade própria de terras, idênticas condição dos condes e Senhores do Pó, era algo sonhado e almejado por todo colono originário daquela “Pianura”, os vicentinos, os Padovanos, os Veroneses e os Trevisanos.
Resumindo, a necessidade de aumentar áreas de agricultura e a fertilidade das terras foram os motivadores principais, aliados ainda aos fatos de que: o exemplo de confiança demonstrada pelos alemães que já estavam tomando as primeiras iniciativas de compra, as facilitadas condições de pagamento, a evidencia de rigidez formal da documentação e das delimitações dos lotes, e, muito significativamente, a realização do sonho de ser o Senhor de uma propriedade de mesma qualidade e nobreza daquelas do vale do Pó, levaram os colonos a superar outras razoes de risco. Logo os primeiros compradores identificaram na família do colonizador, seriedade e admiração que superou qualquer eventual suspeita ou temor na efetuação do investimento.
Em maio de 1883, o lote N. 9 foi vendido para o Sr. Carlos Neuyorks migrante da Colônia Santo Ângelo, pelo valor de 1.000$000 réis, isto é, um conto de réis. O lote N. 9 localiza-se na atual Linha do Moinho e pertenceu recentemente à viúva de Ari Segabinazzi. Este comprador na verdade trata-se de Carl August Peter Neujhar nascido em 10.09.1854 em Alt Bansin - Kreis Köslin – Pomerânia - Alemanha, que segundo a Editora Werlang, teria chegado na Colônia Santo Ângelo em 1.11.1857, juntamente com seus 4 irmãos e os pais. A família embarcou em Hamburgo na Escuna Rena. No dia 27.10.1857 desembarcou em Porto Alegre do Iate Minuano. Em 1859 era proprietário na Picada do Rio do lote número 4 (72,6 ha) que em 1880 o pagou ao Governo da Província no valor de 450$000 réis. Posteriormente, em 1860 adquiriu também outro lote na Colônia Santo Ângelo, adquirido de Manoel da Rosa Garcia.
No mesmo ano de 1883 foram vendidos outros 2 lotes coloniais ao Sr. José Gomes Leal, antigo proprietário da Fazenda Santo Antônio, por 1.000$000 réis cada um, pagos à vista no ato da compra. Um destes lotes (N. 7) já tinha sido reservado a ele desde o momento em que vendeu a sua Fazenda Santo Antônio, sendo, portanto o primeiro proprietário de lote. Pode-se observar que o preço dos lotes na Colônia Dona Francisca era significativamente maiores do que os dos lotes vendidos na Colônia Santo Ângelo.
O empreendimento traria razoável lucratividade para a família Mostardeiro. Somente a venda dos 69 lotes coloniais renderia um valor aproximado de 69.000$000 reis, três vezes maior que o valor da aquisição da fazenda, na qual não houve pagamento em espécie. Adicionalmente, a família obteve valores adicionais com as chácaras e lotes urbanos, além da exploração da madeira e da comercialização de produtos coloniais.
A grande procura de lotes ocorreu a partir de 1884, quando 15 famílias deixaram Silveira Martins, iniciando o movimento migratório para Dona Francisca, onde adquiriram seus lotes coloniais, em parceria ou individualmente.