Colonização Espanhola na America
A partir de 1492 os europeus não pararam mais de chegar ao Novo Mundo Espanhol , cada vez em maior número. Desencadeou-se, assim, um rápido processo de ocupação das terras americanas. Inicialmente, foram conquistadas as ilhas da América Central, em seguida as terras firmes do continente. Com as expedições de Cortez ao território asteca e de Pizarro ao Império Inca, da mesma forma ao mesmo tempo em que os portugueses se estabeleciam no Brasil.
Após a conquista, seguiu-se a colonização, fato que mudou radicalmente a história dos povos que viviam dos dois lados do Atlântico. Para os europeus, o principal efeito foi a acumulação de riquezas que mais tarde contribuíram para impulsionar a industrialização da Europa e o desenvolvimento do capitalismo moderno, processo conhecido como acumulação primitiva de capital.
Para os ameríndios, a colonização significou o extermínio de povos inteiros, a exploração da mão-de-obra nativa e a destruição de grande parte de sua cultura. Para os africanos, o horror da escravização em larga escala para atender à necessidade de mão-de-obra dos colonizadores.
Que direito tinham Portugal e Espanha de se apoderarem de uma terra já habitada? Por que a França, os Países Baixos e a Inglaterra não gozavam do mesmo privilégio? Na época, essa era uma questão complicada para os europeus e foi alvo de longas discussões entre teólogos e juristas. A justificativa para as conquistas era de ordem religiosa, pois o Papa havia reconhecido os direitos sobre as novas terras com o argumento de que, ao ocupá-las e ensinar a religião de Cristo a seus habitantes, as Coroas Espanhola e Portuguesa estariam prestando um serviço ao catolicismo.
Durante os primeiros anos, a ocupação espanhola do continente americano se restringiu às ilhas do Caribe. Nessa região os espanhóis exploraram o ouro de superfície, valendo-se do trabalho forçado dos nativos. Com o tempo e o esgotamento do metal, o interesse se voltaria para o continente. As primeiras bases em terra firme foram estabelecidas no atual Panamá, a partir de 1509. Do local saíam expedições de conquista para o norte, até a região onde hoje se encontra a Nicarágua, e para o sul, em direção ao Império Inca. No início, a Coroa espanhola encarregou alguns particulares de empreender a conquista. As expedições eram então organizadas sob a forma de empresa comercial. Os sócios do empreendimento entravam, cada um, com uma parte do capital (armas, caravelas, mantimentos, homens etc.) e depois dividiam os lucros proporcionalmente.
Um dos homens de confiança da Coroa espanhola, Hernán Cortez, chegou à América em 1504. Em menos de duas décadas, se transformaria num dos conquistadores mais ricos e poderosos do continente. Em fevereiro de 1519, depois de alguns contatos entre espanhóis e astecas, Cortez partiu da atual ilha de Cuba. Levava consigo onze navios com pouco mais de 600 homens, armados de 14 canhões, muitos arcabuzes, mosquetões e pistolas, além de 16 cavalos.
Dois meses depois, ele desembarcou na atual costa mexicana, onde recebeu emissários do imperador Montezuma que lhe ofereceram diversos presentes. As notícias sobre a riqueza e a extensão do Império aguçaram a cobiça do conquistador, que procurou arregimentar homens para suas tropas entre os povos que haviam sido subjugados pelos astecas. Obtido o apoio desses grupos, Cortez marchou em direção à principal cidade asteca, Tenochtitlán, acompanhado de milhares de guerreiros nativos. Em novembro de 1519, ao entrar em Tenochtitlán, o conquistador foi recebido amistosamente por Montezuma que, acreditando nas previsões de alguns mitos religiosos, interpretou a chegada dos europeus como a volta de antigos deuses astecas. Em pouco tempo, porém, ficaria claro o grande equívoco do imperador. Cortez e seus homens permaneceram vários meses em Tenochtitlán. Quando precisou se ausentar da cidade, seu substituto no comando das tropas acabou deflagrando um conflito de conseqüências trágicas: ordenou o massacre de cerca de 6 mil nativosno interior de um templo. Ao retornar, Cortez não conseguiu acalmar os ânimos dos astecas. Em junho de 1520, os astecas revidaram e infligiram pesada derrota aos espanhóis. Em resposta, Cortez buscou novos reforços e sitiou a cidade. Os astecas lutaram até o esgotamento. Finalmente, em 13 de agosto de 1521, o último imperador, Quatemozim, teve de render-se. O Império Asteca foi destruído e passou ao domínio da Coroa espanhola sob o nome de Nova Espanha, governada por Hernán Cortez.
Em 1520 o navegador português Fernão de Magalhães foi o primeiro europeu a navegar pelo Estreito de Magalhães, durante sua viagem de circum-navegação. Como Magalhães entrou no estreito dia 1 de novembro, foi chamado inicialmente de Estreito de Todos os Santos. Portanto, já nesta data estavam delimitados os limites sul do continente americano.
Em abril de 1532, partiu da América Central uma expedição chefiada pelo militar espanhol Francisco Pizarro com o objetivo de conquistar o Império Inca que ocupava as regiões hoje conhecidas como Peru, Equador, Bolívia e norte do Chile e Argentina. Levava 180 soldados e 37 cavalos. Com esse contingente, o conquistador esperava derrotar o exército inca, composto de mais de 100 mil guerreiros. Pizarro e sua tropa foram favorecidos por uma circunstância especial, o Império Inca encontrava-se dividido, em virtude da disputa travada entre os dois pretendentes ao governo. De um lado, estava Atahualpa; de outro, seu irmão Huáscar. Quando os espanhóis chegaram, embora a luta não tivesse terminado, já havia sido praticamente decidida em favor de Atahualpa.
Apoiados por alguns povos hostis aos incas, os invasores marcharam para o sul e, em novembro daquele mesmo ano, entraram na cidade de Cajamarca sem encontrar resistência. Ao chegar, Pizarro convidou Atahualpa para uma reunião. Ele aceitou e se dirigiu ao local do encontro acompanhado de numeroso séquito. Porém, quando alcançou a praça central de Cajamarca, foi preso pelos homens de Pizarro. Em meio a intenso fogo de artilharia, os incas se retiraram da cidade. Na prisão, Atahualpa prometeu a Pizarro, em troca de sua liberdade, um imenso tesouro, composto de todo o ouro que pudesse caber na cela em que se encontrava. O inca cumpriu a promessa, mas não o soltaram. Julgado pelos espanhóis, foi executado em 29 de agosto de 1533.
No centro do Império, em Cuzco, outro inca foi escolhido por membros da elite para substitui-lo. Em maio de 1572, Tupac Amaru, o último governante inca, foi decapitado pelos espanhóis na praça principal de Cuzco. Era o fim do Império Inca.
Enquanto Pizarro estava às voltas com a ocupação do Império Inca, os espanhóis estenderam seus domínios a outras regiões, como a Venezuela e a Colômbia atuais. Diego de Almagro e Pero de Valdívia ampliaram a conquista em direção ao sul do continente, chegando, em 1540, ao território onde hoje se encontra o Chile. Poucos anos antes, Pero de Mendoza havia se estabelecido com seus homens na região do rio da Prata (atual Argentina), onde fundou, em 1536, o Porto de Santa Maria de los Buenos Aires. Assim, por volta de 1560, os espanhóis já haviam conquistado grande parte da terra que lhes cabia no novo continente pelo Tratado de Tordesilhas.
O frei Bartolomeu de Las Casas, que testemunhou parte da conquista e tornou-se um de seus maiores críticos, relata assim a ocupação da ilha Hispaniola: “Os espanhóis, com seus cavalos, suas espadas e lanças, começaram a praticar crueldades estranhas; entravam nas vilas, burgos e aldeias, não poupando nem as crianças e os homens velhos, nem as mulheres grávidas e as parturientes, e lhes abriam o ventre e as faziam em pedaços como se estivessem golpeando cordeiros fechados em seu redil. Faziam apostas sobre quem, de um só golpe de espada, fenderia e abriria um homem, pela metade, ou quem, mais habilmente e mais destramente, de um só golpe lhe cortaria a cabeça, ou ainda sobre quem abriria melhor as entranhas de um homem, de um só golpe.”
Os primeiros europeus chegaram à região sul do Atlântico, com a expedição de Américo Vespúcio, que contornou a entrada do Rio da Prata em 1502. Posteriormente, o navegador espanhol Juan Díaz de Solís, em busca de uma passagem para o Pacífico, descobriu o Rio da Prata em 1516, e ao desembarcar no atual território do Uruguai foi atacado e morto pelos charruas. Os sobreviventes embarcaram novamente até a Espanha, mas muitos destes naufragaram e se refugiaram na Ilha de Santa Catarina, atual Florianópolis.
Fernão de Magalhães percorreu a totalidade do litoral argentino, encontrando-se com os Tehuelches, aos que por sua altura foram denominados Patagões, em relação a um personagem fictício da época, além de descobrir o estreito que leva seu nome em 1520. Em 1526 uma expedição com o objetivo de repetir a viagem de Magalhães e Elcano, capitaneada pelo italiano Sebastião Caboto, encontrou-se com os náufragos de Santa Catarina, os quais os contaram histórias ocorridas nos locais, segundo os quais, remontando o chamado "Mar de Solís", chegava-se a uma terra chamada "Serra de Prata". Tentados por possíveis riquezas, os expedicionários decidiram ir em sua busca. Assim, internaram-se no "Mar de Solís" (o Rio da Prata), ao que nomearam "Mar Doce". Na ribeira do rio Paraná fundaram o forte Sancti Spiritu, próximo à atual cidade de Coronda (Santa Fé). Percorreu o Paraná, chegando ao Paraguai. Sem sucesso, voltou à Espanha em 1530, onde se difundiram as lendas da Serra de Prata e "O Rei Branco".
Após a conquista do Peru, a Coroa entregou as terras da América do Sul em "Capitanias", concedidas aos patronos. Em 1534 a parte norte da atual Argentina foi entregue a Pedro de Mendoza; a região que vai do Estreito de Magalhães até o Pólo Sul passava a ser outorgada a Pedro Sarmiento de Gamboa. Mendoza chegou ao Rio da Prata em 1536 e fundou o Porto de Santa María del Buen Ayre, em honra à virgem de Bonaria, da cidade de Cagliari, patrona dos navegantes.
Na segunda metade do século XVI, o Alto Peru e Tucumán, como o Paraguai exigiam a criação de um porto no Atlântico Sul para poder estabelecer laços de comércio mais próximos com a Espanha e diminuir seu isolamento. É por estes motivos - e pela ameaça de incursões estrangeiras no Rio da Prata - que a Coroa Espanhola autoriza a segunda fundação de Buenos Aires. Desde então a cidade se converteu na saída natural dos produtos alto peruanos (entre eles a prata) e do Paraguai. Estabeleceu-se então, na década de 1580, um lucrativo comércio entre Tucumán e o Brasil através da cidade. Porém, devido à saída não autorizada de metais preciosos por esta via, em 1594 a coroa proíbe o comércio no porto de Buenos Aires, com algumas exceções para evitar o desabastecimento da população: a autorização de embarcar duas embarcações anuais com produtos da região (couro, principalmente) e uma certa tolerância com o contrabando.
É justamente o contrabando que seria a principal atividade econômica de Buenos Aires colonial, e um constante objeto de perseguição de algumas autoridades. Entre estas destacou-se Hernando Arias de Saavedra (Hernandarias), primeiro governador do Rio da Prata nascido na América. Sua constante luta contra os contrabandistas criollos e portugueses na região foi em vão.
O contrabando se realizava de forma bastante aberta e geralmente havia um barco português, holandês ou francês ancorado nas proximidades da cidade, fazendo reparações necessárias, serviços os quais pagava com parte da carga que levava. Muitos comerciantes fizeram grandes fortunas em Buenos Aires, devido à necessidade de bens materiais e insumos que eram necessários em Tucumán e no Alto Peru. Era altamente oneroso para estas regiões, o alternativo transporte através das fragatas e galeões, descendo o Pacifico desde as Ilhas Espanholas do Caribe porque precisariam atravessar o istmo do Panamá, chegar até Lima e ainda cruzar os Andes. Portanto, a dependência do Rio da Prata era fundamental o que motivava a exploração alfandegária em Buenos Aires.